O Sol Negro
Esse ontem como se hoje na memória,
a cela da prisão tão presa à vida,
e o nó cego da esperança quando a história
calçava uma bota desmedida,
quando o tempo feroz da ditadura
pisava mesmo o sol e o sol negro
espalhava uma luz cuja negrura
se afundava e perdia nesse pego,
esse ontem como se hoje não morreu,
ronda a esquina dos dias qual secreta
e pode desabar do próprio céu
se o passo perde o pé, não está alerta:
(se há mesmo assassinos, tantos, tantos
que são feitos beatos e até santos).
Domingos da Mota
a partir das leituras: do poema "hoje há 28 anos fui preso", de Júlio Saraiva, e da crónica de Manuel António Pina, "Fila à porta do Paraíso", no Jornal de Notícias de 29. 10. 2008
a cela da prisão tão presa à vida,
e o nó cego da esperança quando a história
calçava uma bota desmedida,
quando o tempo feroz da ditadura
pisava mesmo o sol e o sol negro
espalhava uma luz cuja negrura
se afundava e perdia nesse pego,
esse ontem como se hoje não morreu,
ronda a esquina dos dias qual secreta
e pode desabar do próprio céu
se o passo perde o pé, não está alerta:
(se há mesmo assassinos, tantos, tantos
que são feitos beatos e até santos).
Domingos da Mota
a partir das leituras: do poema "hoje há 28 anos fui preso", de Júlio Saraiva, e da crónica de Manuel António Pina, "Fila à porta do Paraíso", no Jornal de Notícias de 29. 10. 2008