quinta-feira, janeiro 29, 2009

Nº 1000 Jornal de Letras, Artes e Ideias (fenomenal neste país sem dúvida!)





Uns sapatos meio cambados, biqueira larga, talvez um 42 ou mais, estavam atirados para o meio de um armário cinzento entre livros e papéis. Não seriam sapatos de defunto, mas ninguém sabia a quem pertenciam e nunca ninguém os reclamou. Nesse tempo, os sapatos ainda não tinham ganho o estatuto de digno petardo de que hoje gozam legitimamente, mas não deixavam esses, esquecidos entre letras, de constituir um dos insólitos mistérios do JL, quando cheguei a esta redacção. Havia quem suspeitasse que eram de Carlos Vaz Marques que tinha saído há pouco do jornal para, como se diz, seguir outros passos na TSF. Nunca se tirou isso a limpo e não valia a pena tentar a prova de Cinderelo. Porque a história não se repete, nem os abandonados sapatinhos valiam meias solas. Descobri, aliás, rapidamente, que o JL é um poço sem fundo, onde se pode perder tudo. Às vezes a cabeça e as estribeiras. Nunca o amor à camisola.

sábado, janeiro 24, 2009

Homenagem a Fernando Peixoto


Homenagem a Fernando Peixoto

No próximo dia 31 de Janeiro, pelas 21.45, a Tuna Musical de Santa Marinha, com o apoio do Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto, do Teatro Arado, da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Gaianima e da Junta de Freguesia de Santa Marinha, homenageiam o Poeta e Homem de Teatro, Fernando Peixoto, numa noite de evocação, com a presença dos seus amigos, colaboradores e alunos. Através da poesia e das palavras evocarão a obra literária e pedagogia deste cidadão do mundo que entregou a sua vida á obra social, politica e cultural de Vila Nova de Gaia e da Freguesia de Santa Marinha.Estará patente na sede da Tuna Musical de Santa Marinha uma exposição biográfica do autor.

Contamos com a sua presença.
Gilberto Albuquerque (Presidente da Tuna Musical de Santa Marinha

quinta-feira, janeiro 15, 2009

OS DIAS E AS NOITES




I


Escrevo ao longe os dias e as noites
no papel barato do rascunho, e
nos invariáveis contornos do desenho livre
em madrugadas claras tranco-me no teu círculo
enrolo-me nos seus raios
à espera de me acomodar e
adormecer sobre o diâmetro
estendo-me nele, esticando as pernas,
e prendo-me na elipse
que se alongou no meu espreguiçar.

Estendo as mãos e
os dedos espalham-se para roçar a tua pele,
estremeço e baloiço os braços
para não te deixar para longe do meu peito;
no desequilíbrio das linhas
rasgo dois arcos medidos nos graus
que se retalham na amplitude do abraço,
para te coroar no topo da hipérbole.

Ao encontrar a parábola,
estava perdido de mim e
do papel principal;
não mas adormecerei sobre o diâmetro
nem me tentarei pelas hipérboles;
não lutarei por um papel na tua parábola
nem rasgarei a geometria do poema.


José Costa e Silva, Poesis, Janeiro 2009

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Clube Literário do Porto- Agenda



:: Dia 17 Sábado
Auditório
18h00
Conferência com...
Nadir Afonso
«A ARTE E O UNIVERSO»
apresentação de Carlos Magno.


terça-feira, janeiro 06, 2009

Um Poema







Um poema não
é o estorvo
da alma:

é a expectante fuga
à tenacidade da morte.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Lembram-se? Aqui vai uma 3ª edição...


O Que nos Empobreceu em 2008:


António Alçada Baptista nasceu em 1927 na Covilhã. Licenciado em Direito, esteve ligado ao jornalismo e à edição. Em 1971 publica o seu primeiro livro de reflexões Peregrinação Interior IPeregrinação Interior II, publicada em 1982. Seguiram-se entretanto as obras O Tempo Nas Palavras, Conversas Com Marcello Caetano e Os Nós e os Laços. Catarina ou o Sabor da Maçã; Tia Suzana, Meu Amor e O Riso de Deus, A Pesca à Linha - Algumas Memórias, um livro que se assume como uma obra de memórias, recordações, lucidez e ironia, e à qual não é alheio o profundo sentido afectivo que caracteriza a escrita deste autor.Como cronista e defensor da liberdade Alçada Baptista publicou em Outubro de 2002 Um Olhar à Nossa Volta, o testemunho de uma vivência colectiva registada na década de 70 e 80 marcada por inquietações político-sociais.
Faleceu a 7 de Dezembro de 2008, em Lisboa

1989 - 2009 20 anos de POESIS



1995:

A. André

Em Outras margens

I

Hoje nos nús encontro cadáveres

dançantes - cada instante é morte

creio no riso quase morto

tentp negar o espanto perante a comédia

réstea de diferença ignorância

neste social que lentamente mata

rasgando atitudes perante a morte

fictícia deslumbrante e maldita

nasce a ocasião de estar

onde nunca hei-de chegar

Rir dos mortos - talvez seja loucura

o sonhar as imagens que correm

descontroladas que se desencontram

No clímax uma só imagem

deserta tenta sentir na escuridão

entristecida na coragem chega o dia

a luz sempre bendita

para alguns para mim maldita

Clamando a grande reviravolta

desprezando o desejo do dia e à noite

são entoados cânticos à venerável

num ritual alegre - balada do não ser

Fografando a medusa da hipocrisia

que é vencedora nos ossos do ofício

de existir alguém concentra a dor

Entretenham-se nesta ousadia louca