sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A Passarola da Utopia





Um dos factos mais curiosos da nossa história liga-se a um homem, que por artes e engenhos, e face à memória histórica, terá sido o primeiro ser humano a construir um objecto com a intenção de se elevar no ar e que efectivamente o conseguiu.
Quem leu o “Memorial do Convento” do Nobel Saramago, por certo encontrou aí esse personagem meio louco, meio padre, que um dia meditando nesse triste destino dos homens, quando comparado às maravilhas que as aves podem alcançar, achou essa ideia de voar tão simples quanto a sua vontade de criar.
Estou a falar do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, sendo o “de Gusmão” um acrescento posterior ao do nascimento, em homenagem a um professor desse apelido.
Pouco conhecido da nossa história e da própria história aeronáutica, Bartolomeu de Lourenço, desde cedo espantou os seus congêneres pela prodigiosa memória que possuía, capaz de absorver os clássicos, a filosofia, a história, e de os dizer sem outra ajuda que não apenas e só a sua memória.
Nasceu no Brasil, em Santos, era filho do Cirurgião-Mor do Presídio de Santos. Fez os estudos, também no Brasil, tendo entrado para a Companhia de Jesus, de onde acabou por sair. Ordenado Sacerdote em 1708, viajou pela Europa, tendo estado em paris, cidade das Luzes, e na Holanda, entre 1708 e 1713.
Doutorou-se em Direito Canônico na Universidade de Coimbra, que frequentou entre 1716 e 1720.
Serviu o Rei, laborou na escrita e foi admitido na Real Academia da História.
Seu cérebro sempre fervilhou de ideias e inventos, um original, um excêntrico, capaz do inimaginável à época, como o caso de ter idealizado e construído uma conduta, capaz de elevar a água desde o reservatório, situado cerca de 100m abaixo do nível pretendido.
Fechado numa sociedade fechada, teve o feliz acaso de viver na época em que um Rei acreditava em visionários(D. João IV). Em princípios de 1709(vozes o dizem que a ideia lhe atormentava muito antes)resolveu-se a ir buscar apoios para construir a sua visão: um engenho capaz de se elevar no ar!
Munido do privilégio Real, que acreditava na Ciência, e rodeado da aura de sapiente, dedicou vida, amor e fortuna a esta paixão.
Por três vezes tentou e ao que rezam as crónicas, na experiência de 3 de Outubro de 1709, terá conseguido elevar o seu engenho voador, por duas vezes, vários metros acima do solo.
Esta experiência não teve a repercussão histórica que merecia, devido, por um lado, ao fraco desenvolvimento cientifico/técnico do país, por outro devido à natureza volúvel, estranha do próprio Padre Bartolomeu.
Evoco, aqui, este naco de história, o da “Passarola Voadora”, assim ficou conhecido o engenho, para evocar essa razão louca e imaginativa do ser humano, capaz de ultrapassar fronteiras e impedimentos, a utopia do impossível, num tempo de razão acomodada, do homem feliz engordando à sombra de um establishment comprometido com alienação da vida e dos valores, o reino virtual da Tecnopolia.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi um daqueles seres humanos que ajudaram a humanidade a evoluir, desprendido da “matéria mundi”, voando na sua passarola da Utopia, que bem precisamos de ressuscitar se não quisermos perecer atolados de passarolas que nos prendem à terra.

Portal dos poemas

Recomenda-se a dar uma espreitadela!


http://portaldospoemas.wordpress.com/

terça-feira, fevereiro 26, 2008

POR UM PROJECTO CULTURAL ABERTO



Há quem pense que a ciência, religião, filosofia e arte não se encontram pelos mesmos caminhos, como se a matriz, a capacidade imaginativa e criadora do cérebro humano, fosse assim um espaço compartimentado, sem comunicação entre os elementos que o compõem e dispõem a humanidade à sua actividade consciente e civilizacional.


O espirito grego ou a renascença estão aí para confirmar que, ao contrário das amarras ideológicas, epistemológicas e disciplinares que a modernidade construiu, para encerrar a sabedoria e destituir os sábios, só o ecletismo e a visão universalista, a capacidade de poder articular conhecimentos num avisão fenomenológica total(ler Teilhard Chardin) poderá levar-nos a compreender e actuar sobre a diversidade do mundo, a diversidade humana, num contexto como o actual de mundialização, isto é, onde cada parte da cultura humana, seja nacional, regional, ou outra, é rápidamente objecto de atenção e análise, devido à difusão tecnológica, da rapidez das comunicações.


A nova era, em que já estamos vivendo, a era global, tem de Ter como resposta um projecto global de cultura. Isto é, uma dinâmica de valorização, estudo e saber que abarca as diversas àreas da produção e aquisição do conhecimento humano, bem como dos diversos tipos desse mesmo conhecimento, produzido pelas diversas civilizações humanas, que não só a ocidental, tecnológica. Tem de ser um projecto que abarque a mais pequena migalha da “ciência humana” e a transforme em saber total aberta ao mundo.


Não podemos dividir, ou criar estigmas de saber, entre o saber científico (hoje dominante) e os restantes saberes como o filosófico, o artístico, o ético. No momento actual possuimos um conhecimento histórico que nos permite perceber a falibilidade de um saber que assenta só sobre si próprio, excluindo os demais. A tecnologia sem a rede de suporte de um a estrutura cultura ética, de valores, sem uma dimensão libertadora e criativa do espirito humano, será a subjugação das massas ao império da máquina, do consumo, do mero económico.
A cultura é cada vez mais o que produzimos e acrescentamos à natureza, sem deixar de ser, também, aquela quota mais elevada de produção artística e espiritual, onde o belo, o estético e a exigência são valores de medida. Deste modo querer continuar a enfaixar a cultura em estreitas faixas que remetam ora para a popularização (ou como é vulgar dizer-se o “apimbalhamento da cultura”) ora para o limbo da elevação artística, é continuar na pobreza dos conceitos em que modernidade se fechou.


A nova cultura mundial exige de nós espaços abertos, transcendência, historicidade, projecção, sagrado, ética, visão holística, capacidade de síntese e partilha de espaços disciplinares, exige espanto e reorganização do conhecimento, visão cósmica e reconciliação.
Qualquer projecto cultural que não contenha estes elementos, que não se predisponha à abertura e à descentração, que não proponha diálogos e quebra de fronteiras, simbólicas ou reais, é uma tentativa de estancar a história.
O cultural, hoje, abarca o total, e representa o fenómeno civilizacional nas suas características históricas e na sua dimensão criativa e fundadora do futuro.




Bibliografia a ler para aprofundar o assunto:
O Fenómeno Humano- Teilhard Chardin(1998).Editora Paulus, Lisboa.

paineis misteriosos da Sé de Évora

Museu Nacional de Arte Antiga
Os misteriosos painéis da Sé de Évora
A partir de dia 26 de Fevereiro, o retábulo flamengo da catedral eborense vai estar em exposição em Lisboa, revelando-se assim um dos mais surpreendentes objectos de culto do Renascimento.

Fonte: expresso online
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/251357

Clube Literário do Porto- Agenda

:: Dia 26 Terça-feira
Auditório
21h30
Conferência «SATORI»
que versa aspectos sobre a fusão e convivência entre o Budismo e o Shintuismo em terras do Sol Nascente.
(da responsabilidade da Associação do Auto Conhecimento).
VOLTAR


:: Dia 29 Sexta-feira
Auditório
21h30
Tertúlia
O Regicídio: problemas e perspectivas
por Maia Marques e Vale de Figueiredo.

Galeria
21h30 - Inauguração.
Exposição de Pintura: «Albedo». óleos sobre tela
de Manuela Mendes da Silva.
Até ....

Poesia por Fernando Soares.


Piano-bar
23h00
Jazz no Clube
Trio Vera Cruz










http://www.clubeliterariodoporto.co.pt/noticias.htm
ART'IMAGEM APRESENTA BABINE, O PARVO

Teatro Art’ Imagem apresentou Babine, o parvo na Quinta da Caverneira, Águas Santas
Maia entre 16 a 22 de Fevereiro

Fonte: todo mundo é um palco

Os Intelectuais e o Fim da História

A questão dos “Intelectuais”, melhor, a questão do papel histórico do intelectual, questão derivada da ênfase atribuída pela formulação Comunista, visando a sedução do pensador pela dinâmica de transformação histórica da sociedade, mantêm-se como objecto de discussão, pelo menos na revisão dos comentários e outra prosa escrita em revistas e suplementos jornalísticos, apesar da notória dessa carga ideológica inerente à derrocada política do Leste Europeu.
Alguns analistas, têm vinculado a ideia de «fim» desses míticos intelectuais, grandes pensadores da história e organizadores das metanarrativas do mundo hodierno, que, prácticamente desde o Iluminismo vinham ordenando as fracturas ideológicas mais importantes no pensamento e acção sócio-política da humanidade, através das suas obras escritas fundamentais, que apresentavam, em simultâneo, um pensamento tendencialmente uniformizante e totalizante, isto é, partindo da análise unidimensional do Homem(ora só psíquica, ora só económica, ora só social, ora só ideológica). Rousseau, Vico, Kant, Hegel, Marx, Sartre, entre outros são expoentes deste tipo de pensamento que formatou a dita modernidade.
Digamos, que a ideia em circulação no mundo das letras e das ideias, na actualidade, é que no tempo histórico que atravessamos a sociedade parece incapaz de produzir pensadores dessa dimensão, dessa grandeza!...

Qual fim da história, antecipado por Fukuyama(afinal um pensador dos nossos tempos...).
No entanto, perdoem-me esses analistas, mas o meu ponto de vista é radicalmente oposto, discordando da situação focal em que o debate está colocado.
Ponto 1: O intelectual será, por definição, não aquele que usa o intelecto, e portanto o pensamento, pois essa é a função inerente a toda a humanidade, mas, pensar o homem em função da sua história, da história do mundo, da sua situação na variedade cósmica, reflectindo sobre os sentidos da vivência colectiva, da organização das sociedades e das formas de evolução/involução humanas, fazendo luz sobre as sombras do presente e as incógnitas do futuro.
Ponto 2: Neste quadro, parecem-me inúmeros os homens que se inscreveram com estas qualidades, desde as profundezas seculares, movendo a humanidade pelos líames da evolução e construção civilizacional.
Ponto 3.: Todo o intelectual se insere num quadro mental que no plano social e cultural se inscreve na sociedade e época em que participa, embora o seu quadro conceptual possa ir muito além dos mesmos; significando isto que não pode ficar imune às influências da sua época, na forma como organiza e expõe as ideias, que material simbólico e ideológico coloca nas suas produções intelectuais. Quero dizer que não podemos comparar num plano meramente teórico, Santo Agostinho e Hegel, ou Padre António Vieira e Eduardo Lourenço. A distância secular e dos modos de vida das sociedades em que se inseriram tornam-nos quase estranhos, no entanto estão irmanados pela pertença à família daqueles que utilizaram o seu intelecto como forma de subir mais degraus na consciência civilizacional, inserindo-se na intemporalidade do pensamento.

Deste modo, e esta é minha tese, não podemos afirmar que pelo facto de os intelectuais de hoje partirem, nas suas obras do seu quadro epistemológico disciplinar, tentando perceber o que os rodeia, alargando progressivamente o seu campo de acção intelectual, deixem pura e simplesmente de serem intelectuais, ou que já não existam mais. Apenas as condições épocais de exercício do pensamento são hoje diferentes, por força da dominância da matriz científica disciplinar que predominou no século XX. Mas, não podemos afirmar que Edgar Morin, Basarab Nicolescu, Fritjof Capra, Boaventura de Sousa Santos, Carl Sagan, entre muitos outros, não sejam intelectuais no sentido global que supra referi, pois todos se inserem num caminho mental de iluminação do conhecimento humano como referi no Ponto 1.

A natureza profunda do intelectual actual está a afastar-se da imagem adquirida entre os últimos dois séculos XIX e XX, das metanarrativas por eles criadas de progresso e utopia baseada na totalização de um vector da acção humana(economia ou política, psicologia ou tecnica, sociologia ou antropologia), porque a sociedade e os seus valores estão a transitar rapidamente de um modelo estável para um modelo volátil, e volatilizado pelo excesso continuo e diário de informação, apelo ao consumo, status, e tecnologização, onde o papel do intelectual procura a sua nova função, sem deixar de existir enquanto pensador autonómo e liberto das amarras do tempo no plano do pensamento, que não no plano da sua vivência social e cultural.
Não estamos no fim da história dos intelectuais, porque aí estaríamos no fim da história da humanidade.
Prometo voltar a este assunto em próximo texto.

Um Mendigo à Minha Porta

Um Mendigo à Minha Porta




Entre as folhas
e as flores
segues
lento de asa
como um cão abandonado.

A brisa aspiras como
um Deus
em pequeno corpo
decantado
do ilusório mundo
quase apartado.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Meditação







"Agora visualizemos com o olho da mente, à distância de aproximadamente um braço à nossa frente e ao nível de nossa cabeça, um grande trono dourado, adornado com muitas jóias. Quando essa imagem estiver nítida, continuem visualizando um puro lótus branco em plena floração pousado sobre esse trono.Essa flor é imaculadamente viçosa e não apresenta absolutamente nenhuma falha nem descoloração. Por dentro os lótus constituem-se de discos, primeiramente o sol e depois a lua. Eles se sobrepõem como duas almofadas redondas. Sobre esse assento especialmente preparado, senta-se o Buda Shakyamuni."


in a Energia da Sabedoria, Lama Yeshe e Zopa Rinpoche

poems






I


Um pranto. Uma pena. Um poeta.
E choramos, nunca tanto,
por quem ousa
intenta libertar-nos
do que nos resta.





II


O som do caminho
passa
e nós com ele
a arrastarmos a vida baça.





III


Há rumores...
Um tempo de medo e cobardia.
Afia soldado, afia, teu cabo e espada
cordel como lança e cabelos
ao vento na crina
aguardam o seu tempo.
Há rumores soldado... sobre
o teu rosto limpo, por quem
os cobardes suspiram a medo.




IV

Os teus olhos reflectem
os dedos afagando-se
em segredo.

A medo o corpo
entreabre a blusa
um suspiro
antes do seu degredo.

sábado, fevereiro 02, 2008

Eu hei-de escrever-te um rio

Eu sei de um poema
que se fez rio algemado...
de um rio algemado
que rasgou a montanha...
da montanha amarratoda
que se abriu em papel de carta...

eu hei-de escrever-te um rio
que não caiba em carta alguma!

eu hei-de beber-te em poema
que não caiba dentro de mim!



José Magro de Melo (pseudónimo)

Poeta do Poesis