sexta-feira, dezembro 21, 2007

NATAL, E NÃO DEZEMBRO









Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.


Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal consoada.








David Mourão Ferreira, 1962

domingo, dezembro 09, 2007

ESCRITA





A minha escrita
é vertical,
de cor incerta
e odor de murmúrios

em cada sótão
uma gaveta
em cada gravata
memórias

como estátuas
vivas
as palavras
brincam comigo
na praia secreta
no eterno rio.

Só tu minha
folha de cristal
branca de tão lisa
conheces esse
sabor imemorial!

quarta-feira, novembro 28, 2007

COMPROMISSO

Pertence-te
ser homem, afirmar
todos os dias
que tens um compromisso:
ser claroe brando
como a luz
e, como ela, necessário.
E não deixar
crescer à tua porta
ervas daninhas.

de Albano Martins

Eugénio II


segunda-feira, novembro 05, 2007

Eugénio

Obstinado o Poeta Eugénio de Andrade
– No rigor de um Tempo


“ – Que posso eu fazer
senão beber-te os olhos
enquanto a noite
não cessa de crescer?”
in Ostinato Rigore



Cresci, para a poesia, com sua lírica com a sua música, os seus cavalos alados, alargando a minha imaginação, fazendo do pequeno verso a poção mágica da inspiração.
Aconcheguei o peso das desilusões ao ombro da seus poemas e os seus livros estavam inscritos na glória eterna da poesia que nos salva, como religião secreta de alguns.
Abriu o mundo das flores e dos frutos e das mãos que os trabalham. Fui compreendendo que um parto também é dor, não apenas felicidade e ilusão.
Experiência de leitor e fazedor de poesia, experiência de uma influência que me marcará para além do tempo, o seu tempo de vida. A liberdade, a beleza, a justiça, o amor, tudo é face branca, de um rigor lúcido, perante um mundo, cuja desagregação ética ia observando.

A poesia, bela no seu traço, feminina, -de tão- permitindo-me aceder a esse mesmo universo, feminino, de forma mais leve e subtil, pela sua voz secreta.
Poeta maior, entre grandes, admirável mundo aquele aberto, num tempo de realidade social, franco, sem medo optou, trilhou um caminho único, só seu, até o Portugal, do seu coração, pequenino o seu país, o descobrir e com ele o mundo, como testemunham as imensas traduções (logo a seguir a Fernando Pessoa).

Sem divida nem dúvida, com o cravo na mão, passeio entre as tuas páginas admirando os horizontes que dos teu dedos nasceram, em cada cultor do teu trato da palavra, do trato com o mundo.

Admirável dia este em que rosas se abatem nesta cidade de eleição, o Porto, abençoada de poetas, esperemos, não esquecida, da tua estética.

14 de Junho de 2005
Joaquim Paulo Silva,

quinta-feira, novembro 01, 2007

Inocência






Nenhuma rosa

é inocente. Nem mesmo

o seu perfume. Que este

fere

às vezes

como os alfinetes

dos seus espinhos


Albano Martins

domingo, outubro 21, 2007

Alegria




Com leques de fantasia,

Coroas de singeleza,

Porque tu és a alegria

Foi-se-me emborab a tristeza.


Moreira da Silva, 1994

quarta-feira, outubro 10, 2007

tao te king









O retorno é o movimento do Tao.

É pela fraqueza que manifesta.

Todos os seres provêm do ser;

o Ser provém do Não-Ser.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Pitonisos

Em tudo
se pressupõe
o fim dos tempos:
o país dos cedros
a viagem obscura de Padmos
o último raide do pequeno japonês
a visão nocturna de Herodes
uma torrente de mortos
a caminho da infância.

Serão estas chuvas
do passado uma
oferenda do Diabo?

quarta-feira, setembro 19, 2007

Um Mendigo à Minha Porta







Entre as folhas
e as flores
segues
lento de asa
como um cão abandonado.

A brisa aspiras como
um Deus
em pequeno corpo
decantado
do ilusório mundo
quase apartado.

quarta-feira, setembro 12, 2007

IRREALIZÁVEL










O meu desejo
é a cor do teu cabelo
o pestanejar indeciso
dos dedos
a nobreza permissiva dos
teus braços
é o tudo e nada
que ruboriza as faces
e o torna irrealizável
nas galáxias distintas
onde residem nossos sonhos.

terça-feira, setembro 11, 2007

Rosa

Se ainda sabes
como se desbulha uma rosa,
pergunta às suas pétalas
se ao dizer flor
e perfume
dizes o mesmo nome.

Porque, se o não sabes,
é do amor que falas.



Albano Martins

quinta-feira, setembro 06, 2007


Atlântica Depressão



É sobre a mais fina
rosa
que coloco
o lápis mais dócil
na construção de
um verso
que
ouças da rua
dos montes e vales
de sol a pino
nos charcos limite
da depressão que
raramente atravessa
avessa o Atlântico.

domingo, setembro 02, 2007

Assim Eu Não Quisera






Como se cortam

as rosas, e se põem

a morrer em um claro

cristal; e o sol dá duas,

dá três voltas ao mundo

- assim eu não quisera

saber destas palavras

que levo até ao cristal

do poema, pensando

que um dia nos poderemos

olhar nele. E também nelas.



Angel Crespo (Trad. de Eugénio de Andrade)

segunda-feira, agosto 27, 2007

Anunciação




Às portas do teu ánimo

esboroa-se o meu sorriso

pequeno tigre de

papel tingindo o rouge na

tua face de estrelas.


A noite vem como

deusa do presságio

anunciando a queda

e a absolvição.

sábado, agosto 25, 2007

O Mensageiro







Vós sois os vossos próprios mensageiros; as torres que haveis construído são apenas as fundações do vosso eu gigante. E também esse eu será uma fundação.


Quando eréis um desejo errante na neblina, também eu era um desejo errante. Procuravamos-nos uns aos outros e, da nossa impaciência nasceram os sonhos. E os sonhos não tinha limite de tempo; e os sonhos eram espaço sem medida.


Então, a vida proferiu-nos e descemos pelos anos palpitantes com memórias de ontem e com desejos do amanhã, pois o ontem foi conquistado pela morte e o amanhã é perseguido pelo nascimento.



Kahlil Gibran, in O Mensageiro


talvez a explicação do universo...

domingo, agosto 19, 2007

Um Poema

Um poema não
é o estorvo
da alma:

é a expectante fuga
à tenacidade da morte.

quarta-feira, agosto 15, 2007

AS fÁBULAS











As fábulas são

como

pequenos mamilos

dourados

onde sorvemos a

infância sonhando

com

a cidade mulher

da adolescência.

domingo, agosto 12, 2007

Miguel Torga 100 anos



Miguel Torga e Nós



A terra é quem responde

a terra o mar a torga brava

e aquela parte da ibéria onde

o poema é Portugal feito palavra.


Seu nome é Viriato. E foi Orfeu.

Há uma flauta portuguesa em sua voz

e sempre que diz eu

somos nós.



Manuel Alegre

segunda-feira, julho 23, 2007

Ribeira- no Porto


Cidade das pontes

e das fontes

da ribeira e da

pena que arrasta

a liberdade e de todas

as auroras lusitanas

de todas as madrugadas

de trabalho e maresia

do rio do ouro

D`ouro aos cachos

teus olhos sedosos

onde vive o ancestral

beijo do mundo,

portus cale, cais e porto

terra e àgua

mito e esperança

verdade e lembrança.

segunda-feira, julho 16, 2007

Ipsis Verbis

É a presença veloz
da luz que alimenta
a espessura da esperança
do infinito quântico
que reside em nós.

Nomeámo-lo o cósmico
arquitecto de deus
a estátua perdida de Páscoa
o fulvo espelho de Vénus.

Nomeá-lo, sem lhe dizer
que mais poderemos fazer?

domingo, julho 08, 2007

CARTA DA ESPERANÇA

Por um Mundo menos competitivo, mais associativo/ Por uma democracia global e local, com novas e diferentes formas de participação individual, de grupos e movimentos/A economia e o mercado ao serviço das pessoas/preço justo e defesa dos valores humanos de cidadania global, sobrepondo-se ao efémero, dos média, da comunicação/Mais ecologia, global, alternativas energéticas e industrias do terceiro milénio não poluentes/Da segurança social á Social Segurança/O Estado Social substituido pelo domínio do Social no Estado/ A partilha como valor/ Menos riqueza concentrada, mais valor distribuido, menos criminalidade, mais justiça, mais coesão social/Liberdade espiritual no seio de um ecumenismo religioso verdadeirio, para uma consciência cósmica planetária/ Transformação da ONU num grande Centro de decisão planetário, garantia da paz, da segurança, da justiça mundial, da batalha contra a pobreza e a doença, da defesa dos mais pequenos países e regiões, do alargamento da riqueza e paratilha da tecnologia, ciência, da educação, da informação a todo o planeta/ Transformá-lo na casa única habitável!

sexta-feira, julho 06, 2007

A Terceira Visão









Nós falamos dos deuses mas vós sois


Exactos e perfeitos como deuses.





Sophia de Mello Breiner Andresen





A Terceira Visão, o olho da alma, psiqué, comunicação cósmica para um lugar além.

quinta-feira, junho 28, 2007


















O Trabalho pacífico e regular, o ar vivo das alturas e, sobretudo, a serenidade da alma tinham dado a este ancião uma saúde quase solene. Era um atleta de Deus.





In Revista Rosacruz

domingo, junho 24, 2007

A VIA DA SÍNTESE



A superação da brutalidade imposta pelo fenómeno da unificação planetária com base na Matéria, que nos desumaniza, só é possível se assumirmos a nossa participação activa num movimento de unificação humana que exigirá elevação espiritual e solidariedade, num verdadeiro sentido de pacificação colectiva.

domingo, junho 17, 2007

ZEN



















Diante do volúbis desabrolhado
Tomamos a nossa refeição
Nós que somos apenas Homens

Basho

sábado, junho 09, 2007

Arde como um rio
a tua ausência
no meu corpo

sábado, maio 26, 2007

RESCUE




O meu coração

dou ou não?


na tua mão

a sangrar

no centro

a cidade


Em face do teu

olhar

vou ou não?

quarta-feira, maio 16, 2007

TERTÚLIA: UMA CONVERSA SOBRE A PAZ

O Grupo Cultural POESIS tem a honra de convidar V. Ex.a para uma Noite de Tertúlia com o tema “Uma conversa sobre a PAZ”, que terá lugar na sede da A.I.D.S.S., na Rua Antero de Quental 241, sala 6, na cidade do Porto, no dia 25 de Maio, pelas 21.30H.

sábado, maio 12, 2007

Inscrição




Eu vi a luz em um país perdido.

A minha alma lânguida e inerme.

Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!

No chão sumir-se, como faz um verme...

Camilo Pessanha

segunda-feira, maio 07, 2007

E ÁRVORES



O combóio cá vai e eu com ele

a ver pela janela vastos campos verdes.

Árvores, bosques, casas de cor ocre.

As montanhas recortam-se na bruma.

de João Camilo in "A Mais Nobre das Artes"

sábado, abril 28, 2007

Libertos os pássaros
esvoaçam
nas manhãs recônditas
do dia.


Há expectativas
esperanças
de um regresso
dessa amante
a melancolia.

Nova Ciência



Na dança cósmica , a vida emerge da não vida e a mente dos domínios da vida mais elevados.

A dança da nossa mente com o vácuo quântico liga-nos às outars mentes do planeta e ao cosmos que fica para lá dele. Ele abre a nossa mente à sociedade, à natureza e ao universo.

Lazlo

quinta-feira, abril 26, 2007


Feliz do povo que não tem necessidade de heróis.
Bertold Brecht

quarta-feira, abril 25, 2007

Menino das Sete Praias



Salta, salta à beira mar

à beira rio

salta e sonha

que vais navegar

menino das sete praias.

Salta e perde-te

na espuma da catraia

que navega longe

mão na mão a pensar.

Salta e sonha.

Sonha com o

mar e suas ondas

bandeiras de longíquas

Índias de mitos e desejos.

Salta e sonha

com o Douro fútil

teu tempo

menino da infância

d`ouro de outro mar

sagrado tesouro.

Salta e vai, menino,

às sete praias

do mar amar amarra...

segunda-feira, abril 23, 2007

Nevoeiro



Viera do rio pela mão duma criança.

A cidade é agora de porcelana branca.

eugénio de andrade - in Nevoeiro

Dia Do Mar/ Dia do Livro



As ondas quebrava uma a uma

Eu estava só com a areia e com a espuma

Do mar que cantava só para mim.

Sofia de Mello Breyner Andresen

sábado, abril 21, 2007

CURSO AIDSS

Protecção de Menores (12 horas) 9,16,23 e 30 de Maio
- Riscos e Sistemas

Prof. Dr. Manuel Sarmento
Prof. Drª. Natália Fernandes
Dr.ª Catarina

horário: 17h45/ 20h45

Inscrição: Associação de Investigação e Debate em Serviço Social
R. Antero de Quental 241
Sala 6
4050-057 Porto

4050-057 Porto


Telefax: 225093289
Correio electrónico: aidss@clix.pt


quinta-feira, abril 19, 2007

APELO

Foi o apelo
da tua pele
que me impeliu
para a dócil
peleja.
E pelo sim
pelo não
eu fui
pela pele tua
cobrir com
a minha pele
a tua pele
tão nua.

Kim Berlusa

sexta-feira, abril 13, 2007

Climas

Há um desejo de
batalha corpo
a corpo.
Um odor seco
de enxofre,
trovoada num
céu faminto
feminino em chamas.

terça-feira, abril 03, 2007

A Lámina

A lámina como
um violino
se afia no mar.

Quilómetros de
vida nos separam
da infância.

Gume cruel
não mais
lá poder voltar!

quinta-feira, março 29, 2007

A POESIA E O SOCIAL


A POESIA E O SOCIAL

A poesia – texto ou suporte verbal que ganha uma dimensão especial devido a certas formas expressivas e figuras que utiliza (metonimias, jogos de palavras, metáforas). De certo modo, em sentido tradicional, conota-se a poesia(vates) com uma predestinação, uma vocação, uma mística, que nos transporta a outras dimensões estéticas, metafísicas, poético- filosóficas e espirituais.

O Social - Por social entende-se um conjunto de situações que se reportam a um sujeito colectivo, considerado num enquadramento histórico, económico, político, ideológico e ou cultural.


Será que é possível este diálogo tão aparente de contrários? Pela poesia suguemos o social neste excerto de poema

“O poeta e o social

o poeta pergunta, mesmo quando responde.
o social responde, mesmo quando pergunta.
quando o social é a ideologia, o poeta é a utopia.
quando o social é a utopia, o poeta é a ideologia.
o social trabalha para os outros, o poeta não tem os outros em conta
o poeta trabalha para hoje, o social só para amanhã.
quando o social se retira, o poeta mostra-se.
quando o social começa a mostrar-se, o poeta retira-se.

Alberto Pimenta”

domingo, março 25, 2007

FEIRA DO LIVRO DE AUTOR


























FEIRA DO LIVRO DE AUTOR–
UM Evento de êxito em colaboração com os Fenianos
Portuenses

No dias 27 e 28 de Outubro de 2006 o POESIS, O Clube Fenianos Portuenses e a AIDSS, realizaram em conjunto a 1ª Feira do Livro de Autor, simultaneamente com uma Homenagem ao insigne pensador Prof. Agostinho da Silva.

Foram dois dias animados, onde pontuaram cerca de 15 expositores, com livros de todos os géneros como a poesia, ensaio e romance.
Simultaneamente à abertura da feira do livro ocorreram a abertura das exposições biobliográfica de Agostinho da Silva e de pintura (esta pelo autor Mário Ferraz).

Ao longo destes dias foram várias as manifestações de dramaturgia, leitura de poemas e tertúlias.

Realizou-se ainda uma conferência sobre o Prof. Agostinho da Silva, com o Dr. Fernando Peixoto e o Dr. Joaquim Paulo Silva como oradores. Conferência participada e animada em torno da escatologia nacional, e da humildade marginal da sabedoria do Mestre, guerreiro e monge.

POESIS







O POESIS afirma-se como um Projecto Cultural Total. Como um espaço aberto, desinibido de barreiras disciplinares ou outras, visando a promoção de projectos culturais inovadores, que englobem, não apenas uma área específica, mas o universo dos saberes e das culturas, num atitude de partilha e síntese, de historicidade e ética, de arte e ciência, de reconciliação humana e visão cósmica.

I


Um pranto. Uma pena. Um poeta.
E choramos, nunca tanto,
por quem ousa
intenta libertar-nos
do que nos resta.







II


O som do caminho
passa
e nós com ele
a arrastarmos a vida baça.






III


Há rumores...
Um tempo de medo e cobardia.
Afia soldado, afia, teu cabo e espada
cordel como lança e cabelos
ao vento na crina
aguardam o seu tempo.
Há rumores soldado... sobre
o teu rosto limpo, por quem
os cobardes suspiram a medo.





IV

Os teus olhos reflectem
os dedos afagando-se
em segredo.

A medo o corpo
entreabre a blusa
um suspiro
antes do seu degredo.




V


Todos os dias nascem
filhos da luz de
Manes gigantes descendem

Todos os dias
encarcerados nos vitrais tecnófilos
o passado morre na vitrina e o futuro
apodrece no telejornal.




VI


Serve-me a sopa
gentil senhora.
Dá-me o pão,
comunguemos a mesa
mesmo que pura ilusão.