segunda-feira, novembro 05, 2007

Eugénio

Obstinado o Poeta Eugénio de Andrade
– No rigor de um Tempo


“ – Que posso eu fazer
senão beber-te os olhos
enquanto a noite
não cessa de crescer?”
in Ostinato Rigore



Cresci, para a poesia, com sua lírica com a sua música, os seus cavalos alados, alargando a minha imaginação, fazendo do pequeno verso a poção mágica da inspiração.
Aconcheguei o peso das desilusões ao ombro da seus poemas e os seus livros estavam inscritos na glória eterna da poesia que nos salva, como religião secreta de alguns.
Abriu o mundo das flores e dos frutos e das mãos que os trabalham. Fui compreendendo que um parto também é dor, não apenas felicidade e ilusão.
Experiência de leitor e fazedor de poesia, experiência de uma influência que me marcará para além do tempo, o seu tempo de vida. A liberdade, a beleza, a justiça, o amor, tudo é face branca, de um rigor lúcido, perante um mundo, cuja desagregação ética ia observando.

A poesia, bela no seu traço, feminina, -de tão- permitindo-me aceder a esse mesmo universo, feminino, de forma mais leve e subtil, pela sua voz secreta.
Poeta maior, entre grandes, admirável mundo aquele aberto, num tempo de realidade social, franco, sem medo optou, trilhou um caminho único, só seu, até o Portugal, do seu coração, pequenino o seu país, o descobrir e com ele o mundo, como testemunham as imensas traduções (logo a seguir a Fernando Pessoa).

Sem divida nem dúvida, com o cravo na mão, passeio entre as tuas páginas admirando os horizontes que dos teu dedos nasceram, em cada cultor do teu trato da palavra, do trato com o mundo.

Admirável dia este em que rosas se abatem nesta cidade de eleição, o Porto, abençoada de poetas, esperemos, não esquecida, da tua estética.

14 de Junho de 2005
Joaquim Paulo Silva,

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